A dor e a delícia de ser dona de um “sangue verde e amarelo”...




Guardo com muito carinho e clareza em minha memória momentos da Copa do Mundo de 94, uma seleção de Bebeto, Romário, Dunga e outros craques. Acho que a minha primeira Copa de verdade, quando eu já podia entender o que acontecia em tempos de Mundial. As tardes de bagunça na casa da vovó, todo mundo vestido de verde e amarelo, pipoca, a vela que a Dona Elvira acendia em orações pelo Tafarel, a bagunça, a festa, a alegria de uma nação campeã!

Naquela Copa eu tinha apenas sete anos, percebia e gostava da festa, começava a crescer no País do Futebol... Depois de 94 vieram outras vitórias para a seleção brasileira em Mundiais, a menina de sete anos foi crescendo, se interessando por futebol, acompanhando o pai nas torcidas pelo Peixe e o Paulista de Jundiaí, foi conhecendo, crescendo e vivendo no Brasil...

Ah, o Brasil! O país do futebol, o país do pão e do circo, expressão que aprendi nas aulas de história e comecei a entender ao longo da vida... Mas por aqui, o pão e o circo já não bastam mais... Pois , na verdade, nunca bastaram, como não deveria ser!
É bonito ver casas, ruas, prédios inteiros pintados de verde e amarelo em tempos de Copa do Mundo, o povo pinta a cara, veste a camisa, põe bandeira na casa, no carro, no cachorro, e vem festa, vem feriado, começa a euforia, a euforia de um povo que vira tão patriota da noite para o dia...

Mas, mesmo para aqueles que nem se interessam muito por futebol, não tem como não se envolver o mínimo que seja... A gente torce, a gente vibra, a gente chora, reza, porque somos um povo alegre, um povo que tem raça, que luta sim, que corre atrás! Em uma de suas últimas coletivas antes de estar fora do Mundial, o craque Neymar disse que os jogadores não estavam em campo para dar espetáculo, mas, sim, para jogar bola! Pois é, Neymar, mas nós, brasileiros, nos acostumamos com o espetáculo, e quando ele não acontece, a gente sente...

A gente sente e cobra, de alguma forma por ele, porque o pão e circo não bastam! E a menina que cresceu e se tornou uma mulher e já viajou um pouco e viveu um pouco como estrangeira e pode sentir a dor e a delícia de ser uma brasileira vivendo fora do seu país, pra cá um dia decidiu voltar, porque só quem é brasileiro, só quem tem “sangue verde e amarelo”, quem vibra e se emociona, quem tem o samba na alma, quem ama essa mistura de Brasil é que não se conforma, cobra, vai às ruas e mostra que o pão e o circo nunca bastaram...

E então, vinte anos depois de sua primeira Copa do Mundo, aquela menina que hoje é uma mulher, vê a nação ir às ruas, lutar, protestar, fazer barulho e exigir um Brasil melhor, mais justo, digno para todos! E então vê o Mundial acontece ali, no seu país, diante de seus olhos e as tardes de jogo e bagunça na casa da vovó são mais corridas, entre o trabalho, a correria para casa ou para o bar, para, na companhia da família e dos amigos, assistir a mais uma partida de futebol!

Mas não é apenas mais uma partida, cada jogo é “a partida”, São 200 milhões de pessoas, que, sim, esperam um espetáculo, esperam ver, no gramado, o reflexo da raça, da alegria, da vibração, da luta de um povo que diante de uma derrota histórica se viu perdido, como um sonho que em minutos se desfaz...

Um sonho brasileiro se foi e são mais quatro anos para que o brasileiro volte a sonhar e lutar pelo tão esperado HEXA, mas em alguns meses a oportunidade que grande parte da nação tem de fazer a diferença , ou pelo menos acreditar que a atitude de ir às urnas pode ajudar para que algo diferente aconteça, está chegando... Está chegando e a menina, hoje com seus 27 anos, sonha, espera, acredita e deseja que o seu Brasil seja, um dia, um país onde a violência, as manifestações, o quebra-quebra, a fome, a falta de educação, moradia, saúde, a corrupção, possam dar lugar a uma vida com paz e dignidade a muita gente.

É sonhar demais? Talvez... Mas, mesmo triste com um resultado de mais uma partida de futebol, a vida continua e daqui a cinco dias tudo volta ao “normal” não é mesmo?! E a menina hoje mulher, que mesmo com todos os problemas que seu país tenha, sente o “sangue verde e amarelo” correr pelo seu corpo, se delicia ao ouvir um samba, é feita de mar e torce pelo futebol de seu país, é dona de uma alma que sonha com o dia em que esse “normal” seja melhor para todos nós!

Vaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaai Brasil!


Comentários

  1. Li só agora esse seu post! E nem preciso te falar q sou sua fã! Linda por fora, por dentro e nas escritas!
    Bjo Lariii

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    Respostas
    1. Obrigada pelo carinho, Lulu! Também sou sua fã, amiga querida! Grande beijo!

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